quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Pedir pra sair com dignidade...

Antes de ler esse post, leia Prelúdio.
Proponho agora uma comparação entre dois tipos de políticos:
Há alguns dias, o senador Aloísio Mercadante anunciou que, caso fosse executada determinada manobra que beneficiaria o presidente do senado José Sarney, deixaria a lidernaça do PT no senado. As palavras de Mercadante:“Eu me recuso a fazer este tipo de coisa. Só se for com outro líder. Eu coloco meu cargo à disposição”.
Foi uma atitude muito louvável da parte de um senador que tem uma história política comparativamente menos comprometedora (apesar de, há algum tempo, ter defendido a Petrobrás em caso de improbidade fiscal).
E então, apesar dos protestos e ameaças de Mercadante, a manobra é realizada e Sarney sai ileso das investigações sobre inúmeras irregularidades. O senador diz que comprirá sua palavra e anuncia a renúncia à liderança no senado do Partido dos Trabalhadores. Preparo meus aplausos efusivos.
Eis então que, após um pedido de Luís Inácio Lula da Silva para uma conversa em particular, o ainda líder da bancada do PT no senado decide adiar a renúncia ao cargo para atender à solicitação do Presidente. Os aplausos ficaram em suspensão até segunda ordem... Imaginei que Mercadante realmente devia uma satisfação a Lula pela decisão de deixar o cargo, devido à longa história de militância em conjunto. Seria uma consideração a um velho amigo e aliado político.
Então, na sexta-feira dia 21 de agosto, em um longo discurso com diversas justificativas ao estilo "Se é pelo bem de todos, e felicidade geral da nação..." o senador volta atrás em uma decisão antes "em caráter irrevogável" e diz que opta por ficar na presidência da bancada do PT... Baixo meus braços ao longo do corpo, os aplausos sepultados no cemitério da frustração...
No fim das contas, toda essa comoção foi como preliminares quentes que echem de expectativas, seguidas de um desempenho vergonhoso na "hora H". Muito frustrante, sem dúvida.
Penso que existem duas interpretações para tudo isso.
Possibilidade um: Ele nunca planejou deixar o cargo... a decisão supostamente muito firme do senador na verdade não era tão firme assim, e tudo não passou de um blefe, uma chantagem. Então Mercadante viu que não funcionou e voltou atrás com o "rabinho entre as pernas". Isso demonstra uma total falta de consideração aos próprios princípios, podendo esses serem disfarçados como um meio de se conseguir aprovação pública. Nesse caso, o tiro saiu pela culatra.
Possibilidade dois: Ele realmente planejava deixar o cargo... mas o presidente Lula disse algo que o convenceu de que tal medida seria um suicídio político através de um conhecimento de fatos relevantes da carreira de Mercadante que poderiam vir a tona (o famoso "rabo preso", pronto, falei). Não preciso nem discorrer sobre isso, não é mesmo?

Bom, por outro lado, temos o exemplo da senadora Marina Silva, que, após ter seus apelos para que se colocassem em prática medidas de proteção ao meio ambiente ignorados por membros de seu partido, decidiu deixar não somente o cargo de ministra do meio ambiente, mas o próprio partido. Em entrevista a Jô Soares, Marina disse que não se interessava em fazer um enfrentamento em seu próprio partido, mas, sim, um encontro em outro, onde suas idéias fossem levadas em consideração. Na referida entrevista, o Partido dos Trabalhadores não recebeu críticas diretas, tendo a ex-ministra simplesmente deixado bem claro que mudou de partido devido a uma divergência de opinião.
Tudo isso mostra uma atitude elegante e firme por parte da senadora, que não fez alarde desnecessário na mídia, não anunciou nada que não fosse colocar em prática. Jogou limpo todo o tempo e deixou suas idéias bem claras, dando as devidas satisfações à população e não desrespeitando o partido pelo qual militou durante tanto tempo.

Esses são dois tipos de políticos diferentes... pena que não temos muitos outros como Marina Lima. Nesse caso, nossa política seria muito mais coerente, e poderíamos decidir com mais propriedade em quais idéias projetos fazer nossas apostas. Vamos valorizar os políticos que nos permitem essa possibilidade de pensamento.
Como eu já disse antes, meu objetivo aqui não é dizer em qual candidato votarei ou fazer campanha para quem quer que seja. Não estranhem se vocês lerem nesse blog elogios a quem foi criticado ou vice-versa.

Um grande abraço a todos. Em comemoração à liberdade de expressão na política, deixo vocês com os grandes Chico Buarque de Holanda e Milton Nascimento.


Um comentário:

  1. Estou matando a saudade de suas opiniões. Sempre uma boa colocação. Grande beijo pra vc.

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