sexta-feira, 13 de maio de 2011

Reativando o Blog

Estou reativando meu blog! Muita coisa aconteceu entre meu último post e a presente postagem: Minha formatura, o ingresso no mercado de treabalho, mudança de apartamento (\o/), entre outros. Agora que já estou bem seguro em minha nova vida decidi reincorporar o hábito de escrever a minha nova rotina. Aos antigos leitores, peço desculpas pela demora. Aos novos, minhas boas vindas, espero que gostem do blog. Vocês não imaginem como me sinto honrado em ser lido.

Começarei esse post contando algo que ocorreu comigo um dia desses:

Em um de meus últimos plantões, em um hospital onde atendo sala de emergência e intercorrências de enfermaria, e onde há vários leitos de oncologia, minha primeira chamada pelo rádio portátil do hospital foi uma convocação para atender uma "parada no andar".
Quando a enfermagem usa o termo “parada”, logo imagino duas situações.
A primeira e clássica seria o famoso código azul, que se trata de uma convocação para aplicarmos os princípios da reanimação cardiorrespiratória em um paciente viável, isto é, que tem chances de se beneficiar com a manobra e cujo prognóstico é favorável, ou seja, há chance de vida e recuperação, mesmo que parcial.
A segunda seria a inevitável hora da morte propriamente dita (ou óbito, como dizemos em um hospital, um eufemismo que visa tornar a morte algo palatável do ponto de vista técnico, numa tentativa de adequá-lo mais naturalmente à rotina hospitalar). É um momento em que devemos nos curvar diante do inexorável ciclo natural, e reconhecer que é chegado o fim de uma vida como a conhecemos.
Somos nós, médicos, que devemos diferenciar uma coisa da outra... Por isso a enfermagem usa sempre o mesmo termo.
Trata-se, entretanto de uma tarefa frequentemente espinhosa, não só pela dificuldade do médico em reconhecer a morte de alguém sob seus cuidados (o que é tido, quase sempre, como derrota), mas também pela falta de preparo dos familiares no que diz respeito à morte de um ente querido, que constitui, não raro, um obstáculo a se transpor, haja vista que o relacionamento médico paciente vai muito além do binômio médico-paciente.
Enfim... Fui atender ao chamado, percebendo logo que se tratava da segunda situação. Quando me encontrei com a enfermeira e, juntos, nos dirigíamos ao quarto da paciente, ao perguntar "Qual é a situação?" obtive como resposta: "A paciente tem 83 anos, é enfisematosa, cardiopata e foi encontrada em óbito pelo acompanhante pela manhã".
Quando cheguei à beira do leito, as duas filhas da paciente, bem como seu filho, acariciavam gentilmente o corpo de sua genitora, situação que visivelmente se contrastava com o habitual desespero que se costuma presenciar em tais situações.
Os filhos então me disseram que, já na noite anterior, a mãe, com espantosa serenidade, havia-se despedido deles, dizendo que sua hora havia chegado, e que agora cabia a ela ir ao encontro do marido, que também se fora aos 83 anos de idade. Disse que havia gozado de uma vida longa e plena das felicidades e dessabores que a ela cabiam, e que era chegada a hora de os filhos a deixarem ir.
Não havia revolta ou culpa nos olhos dos filhos, somente as plácidas lágrimas de saudade, e a plena certeza de dever cumprido... O conhecimento de que haviam cuidado se sua mãe de todas as formas que a eles eram possíveis.
Ao sair do quarto, perguntei à enfermeira: "será que teremos essa serenidade diante de nossa própria morte, ou da morte de alguém querido?" a mesma simplesmente fixou seu olhar em um ponto distante e permaneceu em silêncio, o que somente fez com que minha pergunta permanecesse pairando infinitamente no ar.

Não há nenhum comentário a fazer sobre esse relato, a não ser a própria dúvida suscitada: "Qual é a minha conduta frente à morte, no âmbito pessoal? Será que um dia estarei pronto para ir ou deixar ir?"

Memento muori.

2 comentários:

  1. Bom demais vc por aqui! Texto perfeito! Passei por certa experiência e o seu texto encaixou perfeitamente! Faça isso sempre que der, pois por vezes até queremos escrever mas não dá! Grande Beijo pra vc! Estarei por aqui, sempre!

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  2. Excepcional !!! O texto realmente nos faz refletir sobre a nossa existência,acho que o maior problema de como agimos em determinada situação é por não termos tranqüilidade e conhecimento de nossos atos, sempre deixamos assuntos difíceis para depois, evitando o inevitável, como você conclui na realista expressão latina "Memento mori" que significa algo como "Lembre-se que você é mortal, lembre-se você vai morrer", ou traduzido ao pé-da-letra, "Lembre-se da morte",muito bom Abraços...

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